quantas vezes você diz
alô ao telefone mudo?
por quanto tempo suporta o rasgo
do silêncio, a não resposta?
eu respondo o telefone sem dizer
uma palavra, me dou o luxo de esperar
ser dita
eu digo alô cinco vezes, cada vez
mais puta que a outra. tenho certeza
de que alguém está lá (por toda a minha vida
tentaram me contar um trote)
eu digo alô dez vezes, cada vez
mais alto que a outra. tenho certeza
de que me escutam mal. porque grito
e não me ouvem. porque corro
e não me movo. porque vivo
e ninguém vê
eu não atendo o telefone, é extremamente
arriscado
pode ser engano, pior: pode ser que alguém
realmente queira falar comigo
eu não tenho telefone
nada do que esteja fazendo, ainda que
seja nada, deve ser interrompido
coser a vida me custa atenção, um susto
furo meu dedo. me relaciono a duras penas
com aquilo que vejo; trim! visão pavorosa
a voz sem rosto, o texto sem contexto
9 comentários:
a vida é a arte dos "alôs" embora haja bem mais telefones mudos nessa vida...
esse mês de novembro foi especial por aqui!! cada escrito mais visceral que o outro, sem falar no seu estilo, que marca cada palavra... chapei!!
vive e ninguém vê. e poucos vêem quem vivem.
antes do telefonema: a vida!
Se é preciso falar alô 3 vezes, é telemarketing, por isso desligo na segunda.
Um telefone tocando é uma janela para o infinito. Acho que foi Quintana que disse isso.
às vezes me dá medo, às vezes eu não sei o que dizer, às vezes eu simplesmente não atendo. É bom também poder ficar fora de área.
beijo
enquanto você corre e não se move porque ninguem te vê viver - o telefone realmente pouco importa - eu tenho lido você viver. é um movimento às vezes dificil de acompanhar.
decifro nos versos algumas coisas, seus trotes. nada deve ser interrompido? trote. quem te enxergar vivendo vai te interromper, ainda que seja nada, deve ser bom.
Gostei muito daqui. Parabéns. Bjs
...por enquanto
voce pode se dar
a esse luxo
mas de repente
isso muda e tu se torna
mais tolerante...
bj
máquina pavarosa essa, hein... hahah
bem legal mesmo!
mas o silêncio é insuportável, né?
e você poema o cotidiano ruidoso e raivoso...
abraços.
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