quarta-feira, dezembro 9

Rompimento

Hoje, inventei de dormir

no lado da cama que antes

cabia a você - ainda o seu formato

encaixei no seu contorno,

mas não me dupliquei

apenas encobri sua ausência

com meu corpo gelado

larguei a manta, que venha o frio

pra minha forma única desformar

suas linhas na minha cama

pro meu peso novo de uma pessoa só

remodelar seu buraco no colchão

assim garanto que o próximo

que por ventura se aproxime

não se aproveite dos seus vestígios

nem das pistas que sua sombra

em mim possa dar

(cansei das repetições)

se vier alguém que invente um modo;

um caminho inédito no labirinto destes lençóis.

A partir de amanhã, durmo no meio

debaixo da manta e só

me permito ser descoberta

quando amontoar em mim calor próprio

suficiente

amor próprio de pessoa imperfeita

sujeita a ser aberta

4 comentários:

Luka disse...

Esse texto com certeza merece um elogio.. eu só ainda não sei qual

Sérgio Luz disse...

ê tristeza! até o sol aparecer de novo...

Anônimo disse...

então, não entendo bem dessa tristeza (que parece ser bem compreendida por quase todo mundo). falo dessa tristeza de ver alguém deixar a cama sem previsão de volta, e que não te faz desesperar, pelo contrário, te anima a espera de uma outra pessoa pra deixar, um dia, a cama. não entendo, mas faço o mesmo, só não escrevo. O que queria te dizer na verdade não depende tanto do post. Estava lendo flusser, (conhece?) e ainda com aquela sua preguiça latejando na minha cabeça, eu li (mais ou menos) o seguinte: "não existe nenhuma forma política desprovida de dimensão estética e nenhuma forma artisitica que não seja, sobretudo, política." Sei que parece óbvio, e talvez a frase tivesse passado despercebida não fosse o que me disse. Então pensei: se ele estiver correto nessa afirmação, você, que convence tanto com esses versos, é na verdade uma militante, nada preguiçosa.

guru martins disse...

...perfeita...

bj