Hoje, inventei de dormir
no lado da cama que antes
cabia a você - ainda o seu formato
encaixei no seu contorno,
mas não me dupliquei
apenas encobri sua ausência
com meu corpo gelado
larguei a manta, que venha o frio
pra minha forma única desformar
suas linhas na minha cama
pro meu peso novo de uma pessoa só
remodelar seu buraco no colchão
assim garanto que o próximo
que por ventura se aproxime
não se aproveite dos seus vestígios
nem das pistas que sua sombra
em mim possa dar
(cansei das repetições)
se vier alguém que invente um modo;
um caminho inédito no labirinto destes lençóis.
A partir de amanhã, durmo no meio
debaixo da manta e só
me permito ser descoberta
quando amontoar em mim calor próprio
suficiente
amor próprio de pessoa imperfeita
sujeita a ser aberta
4 comentários:
Esse texto com certeza merece um elogio.. eu só ainda não sei qual
ê tristeza! até o sol aparecer de novo...
então, não entendo bem dessa tristeza (que parece ser bem compreendida por quase todo mundo). falo dessa tristeza de ver alguém deixar a cama sem previsão de volta, e que não te faz desesperar, pelo contrário, te anima a espera de uma outra pessoa pra deixar, um dia, a cama. não entendo, mas faço o mesmo, só não escrevo. O que queria te dizer na verdade não depende tanto do post. Estava lendo flusser, (conhece?) e ainda com aquela sua preguiça latejando na minha cabeça, eu li (mais ou menos) o seguinte: "não existe nenhuma forma política desprovida de dimensão estética e nenhuma forma artisitica que não seja, sobretudo, política." Sei que parece óbvio, e talvez a frase tivesse passado despercebida não fosse o que me disse. Então pensei: se ele estiver correto nessa afirmação, você, que convence tanto com esses versos, é na verdade uma militante, nada preguiçosa.
...perfeita...
bj
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