sexta-feira, setembro 4

Revivendo o _borrasca

9.10.07

Era como oscilar entre dois pontos de vista. Um, que era como tinha que ser, era de dentro pra fora, o mundo gigante ao redor. Então cada descoberta aumentaria o universo e me faria deliciosamente pequena. Pensava nos detalhes que uma formiga podia ver em um torrão de açúcar, todas as dobras e orifícios, o desejo de levar aquilo tudo consigo. O outro, que era o que era, era o contrário. Da pequenez à total insignificância de poeira cósmica no meio de um universo indecifrável. Via uma outra pessoa através de mim e mesmo um rosto diante do meu era distante e nublado. Pensava até que ponto eu pecava pela oscilação. E que pensar daquele jeito já era pecado contra a vida. A consciência do que não era fazia tudo não acontecer.

8.7.05

viver é pique cola
em luz de lusco-fusco
no meio da praça
se você parar de correr
e perguntar por quê
perde toda a graça

(ainda vem um correndo
travesso, te cola
e ri da sua cara)

18.12.06

Irrompo e interrompo qualquer ciclo que pareça interminável. Abomino os círculos e sua previsibilidade a trezentos e sessenta graus. Até me cansa falar, tre-zen-tos-e-se-sen-ta-graus. Meu giro não volta pro mesmo lugar, minha linha tem quebras irracionais. Tenho mania de morte por querer; e renascer. De tanto brotar de mim mesma sinto-me viva como um pinscher e concreta como uma travessa. Atravesso a avenida porque gosto da morte certa. Atravesso túneis porque só sei viver em vãos. Eu quero a vida que vejo no velho e nos olhos do cão. Quero a morte ao avesso e teço no tempo um desejo secreto. O segredo eu revelo: não sou definitiva. A certeza da chegada me permite o breve passeio.


É bonito e estranho reencontrar textos antigos.
Tem mais identidade no passado do que eu imaginava.

Um comentário:

guru martins disse...

...somos
o produto
da nossa
própria
sucata...