tenho tropeçado em pensamentos e pulado detalhes. a pressa rasgou minha camiseta na maçaneta na porta quando saí. eu que engato uma imagem na outra, engasguei quando vi a verdade: o mundo não é esse que eu inventei. eu que canto pra dentro, danço pra dentro, grito e monto castelos, tomei um susto quando calei e senti o vento que vem de fora. não sei se alívio ou desespero, o vento levou meu castelo de areia num movimento espiral bonito. o desvelo me trouxe calma. não existe uma verdade só e isso a gente já aprendeu faz tempo. mas eu não sei como faz pra comportar a minha verdade cambiante num mundo tão sólido. como quem não sabe o que fazer perante a ameaça do vínculo que se encerra num elogio, eu não sei o que fazer com as coisas doces que a vida me traz. não sei me comprometer com essa sucessão singela de coisas que seguem acontecendo a cada instante e pedem para entrar em mim, me chamam para desaguar de olhos fechados neste redemoinho de água doce. eu tenho sentimentos que não existem; e tenho medo. a minha cabeça quebrada fez do meu corpo um encaixe sem peça que me caiba. vivo me dissolvendo e me sugando, eu e minha alma de gelatina numa geladeira quebrada. posso ser bruta, mas não tenho força interna pra parar isso sozinha. por isso, pairo na beira do rio e espero você me empurrar.
Vamos começar 2024 escrevendo?
Há 2 meses
3 comentários:
Amei!
: )
Namastê.
Ekatala
Muito bom! Um jogo com as palavras, muitas imagens e uma frase em especial "eu tenho sentimentos que não existem." Adorei.
Beijos
...e quando eu
te empurrar
voce vai voar
cair pra cima
pro ar
se lambuzar de vento
levitar
e voltar ao balaio
com a camiseta rasgada
e a alma arejada...
bj
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