domingo, maio 30

I

Por quantos caminhos a cabeça tenta
ler o corpo estranho que ao meu corpo
se apresenta
com qualquer linguagem mais veloz. E a língua
por quantas palavras e definições
transita gesticulando
a boca que desejaria envolver
E mãos que mesmo não possuindo
palavra por palavra
terminam por querer. Se estás
olhar arisco, clave, cadeira
entre as linhas paralelas do infinito
no fundo dos poros; atrás danço
Entre a dimensão de algo
que sem sombra de dúvidas existe: imagem
e algo além, densa leveza que chama
Balança o impulso que teima
com o meio, diante de mim
tenho o que pressinto, adivinho e vejo
Diante de mim
sua pupila, buraco negro.

II

Vou riscar no chão os passos de dança para você acompanhar. Não é preciso nem recomendável que você os siga à risca, melhor seria se pisando entre eles propusesse uma nova cadência, coreografia insuspeitada que tirasse força do movimento próprio. E talvez assim desavisado descubra um caminho neste labirinto. Eu abro os olhos para as entrelinhas e pinto mais algumas pelo exercício da prática. Resta a você, por sorte ou descuido, esbarrar com elas e alongar a fissura entre imaginação e realidade. Palavra engessada, realidade. Talvez então algo se rompa, sincretismo dimensional. Não nego, tem se pintado de um tom vibrante e discreto, como uma suave presença recém conquistada. Se é preciso realizar o percurso para despertar e pegar em armas. Que venha antes o desejo. E a boca que cala no beijo, esta não mente.


Um comentário:

Juan Moravagine Carneiro disse...

Como diria o poeta "Prova a minha boca no teu ouvido"...

Belo escrito

Abraço!