domingo, março 7

Guardanapo

Eu estava a ponto de dizer que ter te conhecido refratou meu sentido para um caminho que já me parecia melhor desde o primeiro dia; e que algo me dizia que um tempo de talvez felicidade estivesse a caminho. Quando sua mãe entrou na sala com duas cocas, gelada, e ligou a televisão. Era domingo, o Faustão está tão magro, eu disse. Devia mesmo ser loucura. E ficamos ali naquela posição até o Fantástico começar. O domingo acabando com aquela tristeza de um recomeço que talvez nós não quiséssemos se nos fosse dado o direito de escolha, a segunda, cada um pro seu canto. Um dia, eu ainda conversaria com você até o Altas Horas começar sobre como cada ser humano deveria ter o direito de fazer seu próprio calendário como bem entendesse. Você diria que seria impossível organizar um mundo assim e eu sorriria secretamente satisfeita com seu senso de praticidade. Como naquele dia, na mesa do bar, eu não sabia onde colocar a sacola e você sem interromper a conversa com qualquer outro tirou a sacola da minha mão e a colocou num canto. Eu me encantei, te digo agora, com seu jeito de me enxergar olhando e escutando outra pessoa, sem virar as pupilas na minha direção. Era a mim que você via com um sentido que os outros não podem ver e hoje vejo o quanto é mesmo especial, esse sentido que a gente criou, nosso canal próprio de comunicação por onde transmitimos nossas melhores piadas em forma de metonímia que os outros mortais jamais compreenderiam, o mesmo canal por onde escorremos um pelo outro. Meu amor, hoje eu te digo com muito mais propriedade, tudo que eu achei que fosse brega em algum momento da minha vida hoje com você me toma de um jeito vanguardista. Quero que você não guarde esse bilhete, que o rasgue. Porque não poderia suportar que alguém lesse tamanho segredo. Algo acontece entre a disposição dos nossos corpos materiais, a criação. Profanar nosso mundo, jamais.

4 comentários:

Luka disse...

A televisão funciona mesmo como um belo quadro para duas pessoas no sofá com nada a perder

vanessacamposrocha disse...

lindo, lindinho
o cotidiano é um quadrinho!

Sérgio Luz disse...

droga, os comentários da vanessa sempre são os mais divertidos. Dá nem vontade de comentar depois. haha

vanessacamposrocha disse...

Sergio bobinho
fazendo charminho
(hahahaha)