terça-feira, setembro 15

Declaração de amor (ou atestado de realidade)

O verbo ser real por si só é um paradoxo quando isso que me faz querer ser real é intangível, é inefável, inexiste num sentido intransitivo, ou ainda, sofre por falta de sujeito. Me bastaria ser objeto direto concreto e sentir sua mão descendo pelas minhas costas, mas paro e penso: não se pode tocar ninguém propriamente, dito isso, sua mão quando toca minha pele já é fatalmente minha. E sendo minha, me concretiza me omitindo de mim. É possível abstrair o corpo, jamais o pensamento, meditação é a prova disso, não o contrário, ao contrário do que possa parecer. Na confusão, eles gritam, a gente sonha, no calor, eles resmungam, só então a gente lembra que está quente e enxuga o suor da testa. A maior prova da minha dedicação está na vida real que te concedo, sólida, como um livro bom que se lembra em pormenores. A maior prova do nosso amor ninguém pode ver; juntos, esse refluxo de existência.

2 comentários:

vanessacamposrocha disse...

é verdade, a realidade das coisas está na realidades das coisas.
beijos

Sayd Mansur disse...

"sua mão quando toca minha pele já é fatalmente minha"...

o poeta faz isso, descortina ou apenas cria uma realidade com a ginástica da linguagem! grande! :P