sábado, agosto 29

Sexta-feira de cinzas

O som uníssono das vozes da música e eu tomando tempo pra pensar nas escolhas. Esse cinza que embota todas as coisas que entram no meu campo, como um campo cinza, a fumaça da festa, do cigarro. Fico pensando se eu cheiro pra ver se apaga a poeira dessa festa sem graça. E penso em amanhã, acordando debaixo do tapete junto com a poeira e o pó que eu varri, me dá vontade de parar de beber, de fumar, de tomar qualquer coisa que tente dissipar o cinza que sempre volta pra cobrar seu espaço. Fico olhando aquela loira. Loira, linda, amarela, tão parte da festa que ela podia falar com as paredes e eu acho que as paredes lhe bastariam, podia enfiar o nariz no copo e o copo lhe bastaria, qualquer coisa lhe bastaria, porque ela é loira, linda, amarela. E eu aqui com essa mania de nada me bastar, querendo cigarro, bebida, tudo junto, uma overdose de qualquer coisa que me tire desse estado de achar que tudo é cinza que nem essa fumaça que queima meus olhos. Tempo pra pensar nas escolhas, como eu não queria estar aqui, meu lugar não é aqui, estou velha, não é uma questão de idade, amanhã posso acordar mais jovem do que nunca, mas hoje aqui ao lado desta loira que volta pela quinta vez do banheiro linda e mais amarela do que nunca eu sou velha e cinza. As escolhas. Meu lugar é outro, outro lugar, meu lugar é sempre outro. Hoje, meu lugar é do outro lado dessa poça de cigarro, fumaça e música eletrônica, eu nem gosto de música eletrônica. Ainda assim, espero mais um pouco pra ir embora. Quando der seis horas, o dia nasce furta-cor do alto da perimetral.

Um comentário:

vanessacamposrocha disse...

nossa! Deu para sentir nos cantos da pele essa dor cinza!
abraços