quinta-feira, dezembro 11


Não mudam tanto os sentimentos quanto 

minha sensação em relação a eles.
Não mudam tanto as pessoas.
A vida não muda.
O começo já dizia do fim.
Como se no início se desenhasse a chegada,
na medida proporcional inversa imensurável. 
Eu sabia, eu sempre soube, quando entrei aqui.
Sabia do que poderia acontecer, o que veria, 
as mesas viradas, bebidas no chão.
Sabia do sangue aos meus pés, 
em minhas mãos.
E você a não mais sorrir.
Sabia. 
O que não é justo são as interferências anteriores.
A ação inimaginável antes da primeira reação,
o ovo antes da galinha, antes do oco.
O que destruiu o vazio e a inércia interminável
das possibilidades.
Isso não é justo.
Quando começamos a agir?
E a teimar em redesenhar de próprio punho
aquela figura imaterial perfeita?
O que não sabíamos poderia nos salvar.
Mas insistimos em conhecer a fundo e,
não satisfeitos,
buscamos fazer melhor.
Tolos, nós.
Criando o caos através de palavras precipitadas.
Lapidando mármore polido.
Tirando lascas grosseiras para o caminho tropeçar.

quinta-feira, dezembro 4

quando envelhecer


resolver coisas do real
o prato sujo na pia
a unha por fazer
o sono
absurdos diários inadiáveis
para não se perder realmente
penso no passado
pensei no presente
não há forma mais de ser
que não seja assim ausente