domingo, agosto 30

Pergunto-me
o que é este núcleo duro, impenetrável.
Aqui do meu terraço, fumando free.
Eu e o resto do mundo.

sábado, agosto 29

Sexta-feira de cinzas

O som uníssono das vozes da música e eu tomando tempo pra pensar nas escolhas. Esse cinza que embota todas as coisas que entram no meu campo, como um campo cinza, a fumaça da festa, do cigarro. Fico pensando se eu cheiro pra ver se apaga a poeira dessa festa sem graça. E penso em amanhã, acordando debaixo do tapete junto com a poeira e o pó que eu varri, me dá vontade de parar de beber, de fumar, de tomar qualquer coisa que tente dissipar o cinza que sempre volta pra cobrar seu espaço. Fico olhando aquela loira. Loira, linda, amarela, tão parte da festa que ela podia falar com as paredes e eu acho que as paredes lhe bastariam, podia enfiar o nariz no copo e o copo lhe bastaria, qualquer coisa lhe bastaria, porque ela é loira, linda, amarela. E eu aqui com essa mania de nada me bastar, querendo cigarro, bebida, tudo junto, uma overdose de qualquer coisa que me tire desse estado de achar que tudo é cinza que nem essa fumaça que queima meus olhos. Tempo pra pensar nas escolhas, como eu não queria estar aqui, meu lugar não é aqui, estou velha, não é uma questão de idade, amanhã posso acordar mais jovem do que nunca, mas hoje aqui ao lado desta loira que volta pela quinta vez do banheiro linda e mais amarela do que nunca eu sou velha e cinza. As escolhas. Meu lugar é outro, outro lugar, meu lugar é sempre outro. Hoje, meu lugar é do outro lado dessa poça de cigarro, fumaça e música eletrônica, eu nem gosto de música eletrônica. Ainda assim, espero mais um pouco pra ir embora. Quando der seis horas, o dia nasce furta-cor do alto da perimetral.

quarta-feira, agosto 26

A morte da vaca





Eu nunca gostei de poesia bucólica.

terça-feira, agosto 25



Seu cheiro às vezes me pega um susto na rua. Eu odeio que você seja tão barato. O seu gosto eu encontro em cada esquina, em cada ponto. Em cada nota musical desafinada, uma voz rouca, seu rosto. As coisas meio tortas. E odeio que eu encontre seu gosto em bares, bocas. A cerveja escura, o gosto do cigarro. Odeio seu gosto pra poesia materialista. Que você seja tão fácil. Seu tênis torto, seu pé sem meia. Odeio sua atenção difusa, seu ar de fingir ser etéreo. Que você se ponha nos céus, sua pessoa nublada. Odeio que me persiga em todos os lugares, em cada cara que passa. Esse mar que você tem nos olhos. Sua força de ponto de fuga na minha paisagem.

sexta-feira, agosto 21



Hoje eu entendo quando a minha avó - que mora sozinha há tanto tempo - não gosta que eu lave sua louça ou guarde sua roupa de cama. Ela não reclama, apenas se surpreende e jamais agradece. É que tem uma certa idade na qual certos preceitos já estão mais do que bem acertados e mudar, a esta altura, implicaria uma revisão de toda uma vida e, talvez, arrependimento.

A mudança na terceira idade é mais do que cansativa ou desnecessária. É altamente perigosa.




quarta-feira, agosto 19


Às vezes, eu não tomo banho.

Pra sentir o cheiro do suor se acostumando à minha pele, se acomodando nas dobras, nas fissuras.

Pra acompanhar a progressão do cheiro.

Como se algo em mim - este eu que tudo rompe -

pudesse crescer.

terça-feira, agosto 18

domingo, agosto 16



O sentimento tem energia física, bate e volta. No meu peito, o sentimento bate e volta mil vezes por segundo, violento. Não abro o peito. Que o estrago maior seja em mim. 

Eu gosto do estrago. O pior vem depois. 

Poucas coisas são mais tristes do que um sentimento que morreu sem chegar a ser reconhecido.



 

sábado, agosto 15

sexta-feira, agosto 14

Pressentimento, medo. 

A mente liquidando conceitos. 

Intuição, desejo. 

Invadindo o limite da definição com divagações. 

Supor no desespero é a esperança sem fé, o prazer da chibatada. 

Talvez.