Pergunto-me
o que é este núcleo duro, impenetrável.
Aqui do meu terraço, fumando free.
Eu e o resto do mundo.
blog de notas - luanne c. araujo
Seu cheiro às vezes me pega um susto na rua. Eu odeio que você seja tão barato. O seu gosto eu encontro em cada esquina, em cada ponto. Em cada nota musical desafinada, uma voz rouca, seu rosto. As coisas meio tortas. E odeio que eu encontre seu gosto em bares, bocas. A cerveja escura, o gosto do cigarro. Odeio seu gosto pra poesia materialista. Que você seja tão fácil. Seu tênis torto, seu pé sem meia. Odeio sua atenção difusa, seu ar de fingir ser etéreo. Que você se ponha nos céus, sua pessoa nublada. Odeio que me persiga em todos os lugares, em cada cara que passa. Esse mar que você tem nos olhos. Sua força de ponto de fuga na minha paisagem.
Hoje eu entendo quando a minha avó - que mora sozinha há tanto tempo - não gosta que eu lave sua louça ou guarde sua roupa de cama. Ela não reclama, apenas se surpreende e jamais agradece. É que tem uma certa idade na qual certos preceitos já estão mais do que bem acertados e mudar, a esta altura, implicaria uma revisão de toda uma vida e, talvez, arrependimento.
A mudança na terceira idade é mais do que cansativa ou desnecessária. É altamente perigosa.
O sentimento tem energia física, bate e volta. No meu peito, o sentimento bate e volta mil vezes por segundo, violento. Não abro o peito. Que o estrago maior seja em mim.
Eu gosto do estrago. O pior vem depois.
Poucas coisas são mais tristes do que um sentimento que morreu sem chegar a ser reconhecido.